segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

 Dividindo o meu Corpo

"Eu achei que o amor ia passar, que depois de um tempo eu seria insensível a você. Vamos deixar a hipocrisia e o amor idealizado de lado, e admitir que muitas vezes, sou sim. Por vezes te olho e você não me diz nada, é só uma pessoa nesse mundo. Não te amo o tempo todo. De vez em quando, acontece ainda de eu te odiar (em silêncio, porque procuro te poupar da minha gangorra existencial). Aliás, muitas vezes eu te amo como nunca nenhuma mulher aguentou amar nesse mundo, e você nem tem notícias disso. 

Me arrebento de amor e de ódio por você, e você nem sabe. É que eu sei que se você me conhecesse mesmo, eu te seria insuportável. Forjo um certo equilíbrio nas minhas palavras, e eu sei que muitas vezes você acredita nelas. Forjo tão bem, que por vezes eu mesma acredito. Teve um dia dessa semana que eu me peguei insone. Não podia dormir porque o toque da sua pele na minha berrava nos meus ouvidos de um jeito irritante. Não sou dona de mim, é verdade, mas quando você me toca, eu desisto de me ser. E depois de duas décadas juntos você ainda tira o meu sono. Você tem noção do quão ridículo é isso? Me sinto encabulada de escrever isso, mas o faço porque me reconheço no seu olhar que, ao ler meus pedaços de verdade cuspidos em bilhetes que volta e meia deixo espalhados pela casa, balança a cabeça, me chama de louca e diz que não entende. Que bom que você não me entende, eu não suportaria dividir a minha vida e o meu corpo com alguém que me entendesse. É, amar é dividir o corpo com alguém. Enfim, meu amor por ti já passou e todos os dias sou visitada por um novo amor. As variações do amor parecem ser infinitas. Cada "te amo" fala de um amor que é único. Eu nunca repeti um "te amo". Sabe o "te amo" que eu te disse da última vez? Não existe mais."

Não pise no meu vazio

Ana Suy Sesarino Kuss


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