segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

 Quando Ele Dorme

"Quando ele me toca fico sabendo de coisas que não sei. Pela temperatura que sinto na pele dele, sei se a pele dele está ou não está interessada na minha. Há dias em que fazemos amor com cada pedaço nosso: barriga, sexo, intestinos, cabelos, baços, têmporas, fêmures, pescoços. Há dias em que a pele dele só sabe me esfriar. É quando ele está frio por dentro. Não se trata de ser carinhoso ou rude, mas de uma disposição para a vida. Quando ele gosta de viver, minha pele o deseja ardentemente e bebe do desejo dele de sair de dentro de si e se relacionar com o mundo. Quando ele não gosta de viver, pode até querer a junção da carne, pode até estar quente, pode até me despertar o desejo de conversar com ele pela palavra, mas jamais pelo corpo.

Mas quando ele dorme tudo se modifica. O desejo de estar junto se transforma em desejo de estar ainda mais junto, de me cobrir com a pele dele, de respirar com os pulmões dele, de sonhar com o inconsciente dele. Meu corpo acorda o desejando no instante em que ele dorme. Olho sua barriga subindo e descendo, escuto a vida passar silenciosamente pela respiração dele e por alguns barulhos que sua barriga faz e sou tomada por uma paz assustadora. Todo erro será perdoado quando ele estiver dormindo. O amor que tenho por ele, quando ele dorme, é assustador."

Não pise no meu vazio

Ana Suy Sesarino Kuss

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