terça-feira, 25 de novembro de 2014

Tempo
A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais [onze] vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte [e quatro de novembro]de julho
[de dois mil e quatorze] de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou [linda]feia,
acabo de receber um beijo [por e-mail] pelo correio.
[trinta e um anos]Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.

Adélia Prado
Poema roubado do dia por Josias

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